Quem conheceu a Fazenda Santa Brígida, há onze anos e a vê hoje, mal pode acreditar que seja a mesma. Em 2006, a propriedade no município goiano de Ipameri, era o retrato do abandono. Tinha como única atividade a criação do gado bovino, mas quem tomava conta dos pastos eram os cupinzeiros, indicando a degradação do solo. Foi assim que a ortodontista Marize Porto Costa assumiu a propriedade ao perder o marido e, sem entender nada do negócio, buscou ajuda técnica.
“Me deparei com a dura realidade que assusta e muitas vezes desanima milhares de produtores rurais que precisam recuperar solos degradados e áreas pouco produtivas das suas propriedades: a falta de crédito e, principalmente, do conhecimento e domínio da tecnologia para reverter a situação. Entrei em contato com a Embrapa e fui orientada a implementar uma nova tecnologia denominada Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF)”.
Foi realmente a salvação da lavoura. Do aspecto desolado já não há nem sombra. Nas terras da Santa Brígida a natureza agora é viva e generosa. Se antes a produtividade, em média, não passava de 2,5 cabeças, ou 69 quilos, por hectare/ano, agora já chega a 25 cabeças, 730 quilos por hectare ano. E, como diz Marize, ela agora produz o “boi barato”, com um custo de cerca de R$ 55,00 a arroba, enquanto o boi confinado não sai por menos de R$ 88,00 reais a arroba, e no sistema convencional chega a custar R$ 112,00 a arroba.
Com o sistema ILPF a fazenda ainda produz com eficiência safras anuais de soja, milho e, ciclicamente, madeira de eucalipto, tornando-se referência no Brasil e no exterior. “Observei que, enquanto a produtividade das principais culturas de grãos vem aumentando, ano após ano, houve uma redução de custos com adubação nitrogenada e um salto no aumento da matéria orgânica dos solos da fazenda. Os pastos recuperados dão suporte a um número cada vez maior de animais”- comenta Marize.
Curso gratuito e a distância
Em Goiás, segundo a Embrapa, já são 944 mil ha com ILFP, um dos sistemas usados na agropecuária sustentável, que prioriza a utilização de recursos renováveis disponíveis no local, empregando tecnologias que preservam o meio ambiente e a biodiversidade. E para apoiar os produtores que desejam conhecer melhor este ou outros métodos de produção agroecológico, o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural em Goiás (Senar Goiás) oferece um curso gratuito e a distância.
Dividido em três módulos, o curso Agropecuária Sustentável oferece ao participante um panorama completo sobre o tema, para que ele conheça melhor e possa optar entre diferentes técnicas de desenvolvimento sustentável no negócio rural. O primeiro módulo traça um cenário da sustentabilidade nos campos. O segundo analisa as perspectivas, demandas e inovações tecnológicas na área. No terceiro são abordados o manejo, a conservação e controle da produção e a recuperação de pastagens com os sistemas sustentáveis.
A agropecuarista Marize acredita que iniciativas como essa são fundamentais para que a produção rural sustentável continue em expansão. “No âmbito da extensão rural, é imperativo que se organize o sistema nacional de assistência técnica rural e que nossas universidades formem profissionais nas áreas de Ciências Agrárias que tenham o conhecimento para exercer a gestão de um sistema integrado e bem mais complexo de produção rural. O apoio de entidades como Senar Goiás se faz extremamente necessário para levar aos produtores as tecnologias – cursos, técnicas, treinamentos, etc - que viabilizem uma forma de produção agropecuária mais intensa e sustentável”.
Agricultura Familiar ganha com a sustentabilidade
A agropecuária sustentável é adotada com êxito por grandes e pequenos produtores. A história da Associação de Produtores Agroecológicos de Anápolis e Região (APROAR) demonstra o crescimento da agroecologia na Agricultura Familiar. Em 2011, quando surgiu, o sonho da APROAR era organizar uma feira de produtos orgânicos. Hoje ela já consegue realizar duas feiras semanais em Anápolis e, segundo seu diretor técnico, Álvaro Gonçalo, o setor experimenta crescimento acelerado.
“Esse é um meio de produção que está em franca expansão, hoje a demanda por alimentos orgânicos é maior do que a oferta. Então o produtor tem encontrado um nicho de mercado em crescimento, com muitos consumidores procurando alimentos de qualidade biologicamente muito superiores aos que são produzidos com o uso de agrotóxicos”.
O diretor técnico avalia que a agricultura orgânica traz grandes vantagens para o produtor. “Com o sistema ele tá cuidando da propriedade, preservando o solo, preservando a água, o meio ambiente, a saúde não só do consumidor, mas também dele e da própria família, uma vez que não manipula agrotóxicos. E tem também outro aspecto muito importante, que é justa remuneração, o que reflete no fator social. O agricultor familiar bem remunerado não abandona o campo, continua produzindo com satisfação”.
Para Álvaro, cursos como o que está sendo oferecido pelo Senar Goiás são de grande valor. “A técnica ajuda bastante e informação é sempre bem-vinda, nunca vai ser demais. O produtor está sempre precisando de orientação e atualização”. A matrículas estão abertas no site http://ead.senargo.org.br, e o curso é livre, não exige grau de escolaridade.
Mais informações: http://ead.senargo.org.br, 0800-642-0212